Saúde falsificada





Drogas para emagrecer e para impotência lideram pirataria de remédios

A apreensão de medicamentos irregulares cresceu 15 vezes no Brasil no último ano, impulsionada por remédios pirateados que simulam efeitos para o emagrecimento, aumento e definição de músculos (anabolizantes) e também contra impotência sexual. No alvo da falsificação estão ainda as medicações contra o câncer e doenças cardíacas.

As informações são do Ministério da Justiça (MJ) que realiza as operações de combate à “saúde pirata”, em parceria com as polícias federais e estaduais e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na última sexta-feira, em uma operação em São Paulo e Minas Gerais para fiscalizar a legislação que agora proíbe exibir medicamentos nas gôndolas e prateleiras, agentes da Anvisa e da polícia encontraram grandes quantidades de remédios piratas, a maioria com o foco na impotência.

A explicação para as drogas para disfunção erétil e também com fim estético (inibidores de apetite e anabolizantes) liderarem a falsificação está na lei de mercado que também rege o crime. “São pequenas e com alto valor agregado”, explica André Barcellos, secretário executivo do Conselho Nacional de Combate à Pirataria do MJ. A mistura entre preço mais alto e grande sucesso de vendas é o que justifica a preferência destes tipos farmacêuticos pelo comércio ilegal.

Farmácias pequenas e internet

Durante o ano de 2009, 316 toneladas de remédios falsificados foram apreendidas, o que representa aumento de 1480% em comparação com as 20 toneladas recolhidas em todo ano de 2008. Segundo Barcellos, as apreensões realizadas no ano passado mostraram ainda que são as farmácias – e não camelôs e barracas clandestinas – os locais que lideram a oferta dos medicamentos falsificados, contrabandeados e sem registro sanitário.

“O problema dos medicamentos falsificados é mundial. A OMS (Organização Mundial de Saúde) já divulgou que esses remédios representam 10% do mercado farmacêutico de países desenvolvidos e 20% de países em desenvolvimento”, afirma o secretário. No Brasil, o problema virou questão de saúde pública. “Por isso, o acordo firmado no ano passado entre Ministério da Justiça, Anvisa e Polícia Federal para investir neste tipo de operação alavancou tanto o número de apreensões”, completa.

As informações dos setores de inteligência das operações apontam que o Brasil está na rota de comercialização e consumo de medicamentos falsificados, mais do que no ramo produtivo de piratas. “Apesar disso, no ano passado, algumas investigações resultaram na descoberta de laboratórios clandestinos de produção”, diz Barcellos.

Além das farmácias, em especial as de pequeno porte, a internet também é um dos principais pólos de venda dos medicamentos irregulares. Relatórios internacionais, como o produzido pelo Observatório de Violência da Europa, além da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) já alertaram sobre o “cyber crime” de remédios piratas. As estimativas dão conta que entre 25% e 50% das drogas comercializadas por sites são falsificadas ou irregulares.

Prejuízos nos tratamentos

Especialistas afirmam que os problemas relacionados aos medicamentos falsificados podem ir desde o “efeito nenhum” até seqüelas importantes como intoxicações – em geral a produção clandestina de medicamentos fere todos os princípios da boa prática, como a higiene e armazenamento adequados. Também ficam de fora da cadeia de produção dessas drogas as condições adequadas de temperatura, o que pode trazer reações adversas às substâncias utilizadas para fazer comprimidos.

Mesmo quando o único problema dos terapêuticos piratas é o efeito placebo, o dano à saúde do paciente não é descartado. Como as principais drogas falsificadas são para o emagrecimento e também para a disfunção erétil, o impacto psicológico de recorrer a um medicamento e ainda assim não conseguir melhorar o desempenho físico ou sexual é importante.

“Temos visto que a queixa de ineficiência dos medicamentos tem crescido. Isso aparece mais em meu consultório”, relata o presidente da Sociedade Latino-Americana de Medicina Sexual, Geraldo Eduardo Faria. “Se é a primeira vez que este paciente usa um medicamento para a disfunção erétil, pode reputar a ineficácia do tratamento a si próprio, como a incapacidade de reagir mesmo com o recurso medicamentoso”, afirma.

A influência da automedicação

A cultura da automedicação brasileira é apontada como um dos fatores que facilitam o comércio de medicamentos falsificados. Isso porque, dizem os médicos, sem o respaldo de uma opinião especializada, as pessoas não conseguem mensurar o que pode ser classificado como reação inesperada da medicação, inclusive a falta de efeito das drogas.

Para André Franco Montoro Filho, presidente do Instituto Etco – uma das entidades convocadas para mapear e combater a pirataria dos medicamentos – o passo mais importante a ser dado agora é investir em tecnologia de inteligência no monitoramento das medicações. A medida de rastrear os produtos farmacêuticos, afirma ele, é eficiente tanto para coibir a falsificação quanto monitorar as receitas de medicamentos com alguma irregularidade.

“Além de continuar o controle com operações aos moldes das já realizadas, um passo necessário é a implantação de um sistema real de rastreamento”, acredita.

A tecnologia citada por ele monitora o medicamento desde a fase de produção, distribuição e venda nos balcões das farmácias. Cada embalagem teria uma numeração própria, como se fosse o chassi de um veículo. Segundo Montoro Filho um projeto piloto foi desenvolvido em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Fortaleza.

“Os resultados foram muito positivos. Os custos não são importantes porque são diluídos por número de produção”.


Fonte: IG

0 comentários:

Postar um comentário

E hora de rir

Amigos

Quem sou eu

Minha foto
Falo o que penso Escrevo o que quero
 
BlogBlogs.Com.Br